domingo, 18 de abril de 2010

Missa é como um poema, não suporta enfeite


Escritora brasileira, Adélia Prado defende resgate da beleza na celebração da liturgia.


Ao defender o esmero com as celebrações litúrgicas e a beleza como uma «necessidade vital» que deve permeá-las, a escritora brasileira Adélia Prado afirma que «a missa é como um poema, não suporta enfeite nenhum».«A missa é a coisa mais absurdamente poética que existe. É o absolutamente novo sempre. É Cristo se encarnando, tendo a sua Paixão, morrendo e ressuscitando. Nós não temos de botar mais nada em cima disso, é só isso», enfatiza.Poeta e prosadora, uma das mais renomadas escritoras brasileiras da atualidade, Adélia Prado, 71 anos, falou sobre o tema da linguagem poética e linguagem religiosa essa quinta-feira, em Aparecida (São Paulo), no contexto do evento «Vozes da Igreja», um festival musical e cultural.Ao propor a discussão do resgate da beleza nas celebrações litúrgicas, Adélia Prado reconheceu que essa é uma preocupação que a tem ocupado «há muitos anos». «Como cristã de confissão católica, eu acredito que tenho o dever de não ignorar a questão», disse.«Olha, gente – comentou com um tom de humor e lamento –, têm algumas celebrações que a gente sai da igreja com vontade de procurar um lugar para rezar.»Como um primeiro ponto a ser debatido, Adélia colocou a questão do canto usado na liturgia. Especialmente o canto «que tem um novo significado quanto à participação popular», ele «muitas vezes não ajuda a rezar».«O canto não é ungido, ele é feito, fazido, fabricado. É indispensável redescobrir o canto oração», disse, citando o padre católico Max Thurian, que, observador no Concílio Vaticano II ainda como calvinista, posteriormente converteu-se ao catolicismo e ordenou-se sacerdote.Adélia Prado reforçou as observações, enfatizando que «o canto barulhento, com instrumentos ruidosos, os microfones altíssimos, não facilita a oração, mas impede o espaço de silêncio, de serenidade contemplativa».Segundo a poeta, «a palavra foi inventada para ser calada. É só depois que se cala que a gente ouve. A beleza de uma celebração e de qualquer coisa, a beleza da arte, é puro silêncio e pura audição».«Nós não encontramos mais em nossas igrejas o espaço do silêncio. Eu estou falando da minha experiência, queira Deus que não seja essa a experiência aqui», comentou.«Parece que há um horror ao vazio. Não se pode parar um minuto». «Não há silêncio. Não havendo silêncio, não há audição. Eu não ouço a palavra, porque eu não ouço o mistério, e eu estou celebrando o mistério», disse.De acordo com a escritora mineira (natural de Divinópolis), «muitos procedimentos nossos são uma tentativa de domesticar aquilo que é inefável, que não pode ser domesticado, que é o absolutamente outro».«Porque a coisa é tão indizível, a magnitude é tal, que eu não tenho palavras. E não ter palavras significa o quê? Que existe algo inefável e que eu devo tratar com toda reverência.»Adélia Prado fez então críticas a interpretações equivocadas que se fizeram do Concílio Vaticano II na questão da reforma litúrgica.«Não é o fato de ter passado do latim para a língua vernácula, no nosso caso o português, não é isso. Mas é que nessa passagem houve um barateamento. Nós barateamos a linguagem e o culto ficou empobrecido daquilo que é a sua própria natureza, que é a beleza.»«A liturgia celebra o quê?» – questionou –. «O mistério. E que mistério é esse? É o mistério de uma criatura que reverencia e se prostra diante do Criador. É o humano diante do divino. Não há como colocar esse procedimento num nível de coisas banais ou comuns.»Segundo Adélia, o erro está na suposição de que, para aproximar o povo de Deus, deve-se falar a linguagem do povo.

«Mas o que é a linguagem do povo? É aí que mora o equívoco», – disse –. «Não há ninguém que se acerca com maior reverência do mistério de Deus do que o próprio povo».«O próprio povo é aquele que mais tem reverência pelo sagrado e pelo mistério», enfatizou.«Como é que eu posso oferecer a esse povo uma música sem unção, orações fabricadas, que a gente vê tão multiplicadas e colocadas nos bancos das igrejas, e que nada têm a ver com essa magnitude que é o homem, humano, pecador, aproximar-se do mistério.»Segundo a escritora brasileira, barateou-se o espaço do sagrado e da liturgia «com letras feias, com músicas feias, comportamentos vulgares na igreja».

«E está tão banalizado isso tudo nas nossas igrejas que até o modo de falar de Deus a gente mudou. Fala-se o “Chefão”, “Aquele lá de cima”, o “Paizão”, o “Companheirão”.»«Deus não é um “Companheirão”, ele não é um “Paizão”, ele não é um “Chefão”. Eu estou falando de outra coisa. Então há a necessidade de uma linguagem diferente, para que o povo de Deus possa realmente experimentar ou buscar aquilo que a Palavra está anunciando», afirmou.Para Adélia Prado, «linguagem religiosa é linguagem da criatura reconhecendo que é criatura, que Deus não é manipulável, e que eu dependo dele para mover a minha mão».Com esse espírito, enfatizou, «nossa Igreja pode criar naturalmente ritos e comportamentos, cantos absolutamente maravilhosos, porque verdadeiros».Ao destacar que a missa é como um poema e que não suporta enfeites, Adélia Prado afirmou que a celebração da Eucaristia «é perfeita» na sua simplicidade.«Nós colocamos enfeites, cartazes para todo lado, procissão disso, procissão daquilo, procissão do ofertório, procissão da Bíblia, palmas para Jesus. São coisas que vão quebrando o ritmo. E a missa tem um ritmo, é a liturgia da Palavra, as ofertas, a consagração… então ela é inteirinha.»«A arte a gente não entende. Fé a gente não entende. É algo dirigido à terceira margem da alma, ao sentimento, à sensibilidade. Não precisa inventar nada, nada, nada», disse Adélia.

E encerrou declamando um poema seu, cujo um fragmento diz:Ninguém vê o cordeiro degolado na mesa,o sangue sobre as toalhas,seu lancinante grito,ninguém”.


Fonte: Zenit

O caminho da Reconciliação


Perdoar é experimentar um pouco de Deus.


Pregar a reconciliação num mundo como o nosso, onde o rancor e a vingança vão ganhando espaço nos corações, é uma grande e difícil tarefa! Na maioria das vezes o gosto é amargo, mas não é impossível! Reconciliação significa realizar um acordo entre as partes numa comum unidade e entendimento. Porém, o verbo grego tem uma força de expressão maior: indica a passagem de um estado para outro. Apresento aqui duas formas de reconciliação: Com Deus e com os irmãos (pai, mãe, filhos, amigos, cônjuges, vizinhos…). A reconciliação com Deus é sempre necessária e urgente. Reconciliar-se com o Senhor, deixar-se fazer novamente amigo d’Ele! Experimentar a misericórdia de d’Ele, deixar que Ele exercite em mim a Sua misericórdia!Na verdade, todos nós necessitamos de misericórdia. Necessitamos dela por causa das nossas grandes responsabilidades, assim como por causa da nossa fraqueza e miséria moral. Mal podemos dar três passos sem errar algum. Aprendamos a usar o caminho privilegiado da reconciliação, que é o sacramento da confissão, como sinal sagrado instituído por Cristo para perdoar os pecados mortais e para incrementar a graça santificante. Também podemos falar a Deus, quando nosso coração está pesado e sem motivação; quando estamos tristes ou preocupados. São atos simples, que podem ser feitos em qualquer lugar e que mantêm a nossa alma orientada para o Senhor. Eles nos preparam para uma boa e sincera recepção do sacramento da Penitência. A reconciliação com nossos irmãos é essencial. É a oração do Pai-Nosso: “Perdoai-nos assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Com certeza, não haveria verdadeira reconciliação com Deus se não houvesse um perdão sincero pelas faltas dos nossos próximos. Olhando para a Parábola do Filho Pródigo (cf. Lc 15, 1ss), a atitude do filho mais velho é altamente significativa. Ele também tinha necessidade de se reconciliar com o coração de seu pai. Apesar de estar fisicamente próximo, espiritualmente estava muito longe e precisava da misericórdia do Pai. Podemos dizer que o filho mais velho descobre a misericórdia do Pai vendo a misericórdia deste para com seu irmão. Faz-se, por assim dizer, participante da misericórdia do Pai. Se hoje você enfrenta esse grande desafio interior de perdoar, creia e dê o passo. Perdoar e se reconciliar é experimentar um pouco de Deus! Sentir o gosto bom da presença d’Ele em nós! É a sensação de vitória, de bem-estar por ter vencido um obstáculo…É vivência de uma obra nova dentro de nós! Tenha a disposição interior de perdoar e depois disso, dê um passo, faça um gesto concreto. Perdoar é libertação para o coração, para a alma. Não tenha medo!
Paulo Vitor – Canção Nova

Por que esta Semana é Santa?


O ápice está na Vigília Pascal e no Domingo da Ressurreição


Na Semana Santa, a Igreja Católica celebra os mistérios da salvação, levados a cumprimento por Jesus Cristo nos últimos dias de Sua vida, a começar pelo Seu ingresso messiânico em Jerusalém. O tempo da Quaresma, o período de 40 dias, cujo início é na Quarta-feira de Cinzas, continua até a Quinta-feira Santa. A partir da Missa Vespertina da Quinta-feira (“in Cena Domini”/Ceia do Senhor) inicia-se o Tríduo Pascal, que abrange a Sexta-feira Santa “da Paixão do Senhor” e o Sábado Santo. E tem o seu ápice na Vigília Pascal e no Domingo da Ressurreição.


A Semana Santa começa no Domingo de Ramos, que une num todo o triunfo real de Cristo e o anúncio de Sua Paixão. Desde a Antiguidade se comemora a entrada do Senhor em Jerusalém com uma procissão solene. Com ela, os cristãos celebram esse evento, imitando as aclamações e os gestos das crianças hebreias, que foram ao encontro do Senhor com o canto do “Hosana” (o grito de exaltação e adoração ao messianismo de Jesus).


Durante a Semana Santa, a Igreja Católica celebra todos os anos os grandes mistérios da redenção humana. O Tríduo Pascal tem início na Quinta-feira Santa com a Missa do Lava-pés, expressão máxima da frase de Jesus – “Eu vim para servir, não para ser servido”. Nessa celebração, Cristo deixa o exemplo do amor ao próximo. Nessa Missa também se recorda a instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Ao final da celebração, acontece a “Transladação do Santíssimo”, na qual o sacerdote recolhe as Hóstias Consagradas e as deposita no sacrário. Tudo isso acontece numa procissão luminosa, na qual o povo, em silêncio e recolhimento, é chamado à adoração a Nosso Senhor Jesus Cristo, que vai se entregar como sacrifício.


Na Sexta-feira Santa recorda-se o dia em que Cristo se entrega como vítima pela humanidade. A celebração desse dia se dá em três partes: liturgia da Palavra com o Evangelho da Paixão, adoração da cruz, com o tradicional beijo da cruz e distribuição da comunhão. Esse é o único dia em que não há Missa. Nesse dia, os católicos observam o jejum juntamente com a abstinência de carne. Também nesse dia se guarda o silêncio numa atitude de oração e contemplação.


Na noite do Sábado, segundo uma antiquíssima tradição da Igreja Católica, celebra-se a chamada “Vigília Pascal”. Esta noite santa, em que Jesus ressuscitou, deve ser considerada como “mãe de todas as santas vigílias”. Esta celebração inclui a chamada “bênção do fogo novo” com uma procissão luminosa, por meio da qual os fiéis católicos renovam sua fé em Jesus: a luz do mundo; a proclamação solene da Páscoa com o canto do “Exultat”; as leituras do Antigo e Novo Testamentos; e a celebração de um batismo, que é expressão da vida nova, que Jesus veio trazer. Os fiéis são convidados a cantar com alegria que “Jesus Ressuscitou”.


O Domingo de Páscoa, para os católicos, marca o início de um novo ciclo ou como é chamado “O Tempo Pascal”, que se estende por cinquenta dias, até a chamada Festa de Pentecostes (descida do Espírito Santo). Esses dias são vividos com a mesma intensidade e júbilo como se fossem um só e mesmo dia, o “Dia da Ressurreição”.


Padre Donizete Heleno

Responsável pela Liturgia da Canção Nova